Ataques direcionados aos governos

Já foram 778 vítimas em 15 países diferentes, seis deles da América Latina. Desde, pelo menos, 2010, um programa capaz de roubar documentos, gravar áudios, identificar a localização do usuário, ativar a câmera e interceptar o que se digita no computador espiona arquivos de governos, entre eles o brasileiro. O ataque descoberto pela Kaspersky Lab tem como principais alvos forças armadas e agências governamentais. Esse é o primeiro caso conhecido de ciberespionagem governamental dentro da América Latina.



Apelidada de Machete, uma espécie de facão em espanhol, a ação foi desvendada depois que a empresa de soluções de segurança foi contatada por um general de um dos países latino-americanos, com suspeitas de que seu computador estaria infectado. O programa encontrado é instalado em e- mails que direcionam para falsos sites e arquivos de PowerPoint. Com referências ao livro A arte da guerra ou a temas pornográficos, bastabaixar as apresentações para que o programa se instale e passe a espionar o dispositivo.

Por ora, o que os analistas da Kaspersky sabem é que o malware foi desenvolvido por um país de língua espanhola, que é também parte da América Latina, com o intuito de conseguir informações sigilosas das nações vizinhas. Mesmo a Rússia, por exemplo, provavelmente consta como vítima porque o alvo era alguma embaixada latino-americana. O certo é que gigabytes de arquivos confidenciais foram acessados ilegalmente. "É muito difícil estar preparado para um ataque dirigido. Em geral, os governos têm arquivos confidenciais, mas não contam com nível técnico suficiente de proteção", avalia Dmitry Bestuzhev, diretor da Equipe de Segurança e Análises para América Latina.

No Brasil, ao menos seis organizações estiveram sob vigilância do programa. Como cada departamento tem vários computadores, o número de vítimas indiretas é maior. O país figura como o quinto mais espionado pelo programa, atrás, respectivamente, de Venezuela (42%), Equador (36%), Colômbia (21%) e Rússia (6%). Pela análise do que foi roubado, os principais interesses, segundo a pesquisa, são em inteligência e atividades militares, como quantos aviões têm as forças armadas de um país. Além de posições diplomáticas e governamentais não declaradas oficialmente.

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